quinta-feira, 13 de outubro de 2011

E se...

E se eu assentasse-me sobre minhas mãos
E não mais estendesse-as a ti
E se eu não quiser mais poupar-te de dores
E encher teus dias de pranto e suor?
E se eu apenas te olhasse caminhar
Cuidando apenas para que não morresses
Mas sem dar-te saúde plausível,
Sem cercar-te dos dardos em chamas,
Sem proteger-te das palavras daninhas,
Somente abrir teus olhos, mas deixar-te os espinhos
E se eu não der-te a tua vitória enquanto caminhas,
Não curar-te, não sarar-te, apenas manter-te vivo?
E se eu disser que teu descanso nunca chegará,
Que teu choro jamais terá fim
Que tuas lutas não vão terminar
E que tua coroa não vais receber aqui?

Eu sou Deus, teu criador e consolador
Agindo eu ou não... Quem impedirá?

Forçar-me-ias a agir?
Podes tu coagir-me de algo?
O que queres cobrar-me?

És tu, ingrato devedor,
És tu quem deve doar-te
Entregar-te a mim e não querer mais nada.
Já fiz-te imerecido favor.
Abençoei-te, livrei-te, remi-te.
Não exaltar-te-ei, não engrandecer-te-ei
Não deixarei teu nome às futuras gerações.
Assistir-te-ei com minha presença e isso bastar-te-á.
Não cercarei teus caminhos de rosas,
Dar-te-ei “apenas” minha salvação.

Tua coroa futura é tua cruz de hoje.
Sim, a cruz, é minha benção a ti.
As marcas da promessa são as chicotadas e açoites.
Tua vitória é morrer por minha causa.
A alegria é o choro despedaçado aos meus pés.
Tua restauração é o sofrimento contínuo.
Minha doutrina é quebrantar-te até o pó.
Nada devo-te para que te restitua.
Doei a ti minha graça e misericórdia.
E isso basta!

E se eu não quiser mais falar
E meu silêncio for minha única resposta a ti?
E se eu contorcer seu coração e apossar-me de tua vida
Sem dar-te chance mais de controlá-la?
E se eu enraizar em ti o desprezo total por tua vida
E o apego avassalador pela minha?
E se eu fizer de ti um verdadeiro apaixonado
(pois, de muitíssimo longe não o és)
Pelas minhas veredas dolorosas
E fizer-te em trapos
Para ver-te do meu jeito?
Acaso nunca pensaste que eu posso fazer de ti
O que eu bem entender
E ainda tu teres o privilégio sincero de
Agradecer-me por isso?
E se eu afirmar a ti agora
Que sou eu quem manda e dito as regras?
Que sou imutável por natureza,
Mas posso mudar e ainda continuar com a razão?

Eu sou Deus. Agindo eu ou não...
Tu vais fazer o que?

E se eu te disser que fora de mim é melhor não nascer
E desobedecer-me é pior que um aborto?
Que o único descanso que vais ter
É sob a lápide de tua sepultura?
Que a espada jamais apartará de ti
E por meio dela viverás (e morrerás)?
Eu sou o que sou.
Zelo por ti a todo o instante.
Amo-te, por isso açoito e ensino-te
Ensino-te a ser forte e maduro
Pelas dores, choros e cicatrizes.
Não quero poupar-te para ter-te comigo.
Pois prefiro que tu adentres minhas eternidades aos pedaços
Do que ter que lançar-te, inteiro, no lago ardente.

E se eu disser-te que tu não mais vives
Mas eu vivo em ti... Simplesmente sorri e obedece (ou chora e obedece)
Seja o que for que eu te disser... Obedece.
E se desobedeceres... Eu perdôo-te.
Eu sou Deus. Agindo eu
Querendo eu, ninguém impedirá.
Nem teu pecado. Nem tua desobediência.
Pois eu te amo.

Hudson Chaves

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