quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Acontecer

O que está acontecendo? O que é que há? Estas perguntas começaram a me perturbar de uns dias para cá. Numa discussão com um líder religioso, ele disse que “não está acontecendo nada” com o grupo de jovens da igreja. A propósito eu sou o líder desse grupo. Isso foi um direto no queixo. Eu fiquei muito chateado, mas não rejeitei a crítica e comecei a refletir e até cheguei a constatar que ele tinha razão, apesar de nós tentarmos trabalhar com os jovens, tentar organizar estudos bíblicos que realmente ensinem a verdade (longe de mim desmerecer alguém, eu sou um merda, mas não quero ser) e não essa entorpescência nauseabunda que faz esse bando de desavisados (nós, o povão) engolir,  digerir, achar gostoso e querer mais ainda.

Então, esse mesmo líder anuncia “tempo de mudança”, um “novo tempo”. Santo Deus, que vontade de vomitar. É porque esse “novo tempo” era a apresentação da nova logomarca da igreja, da nova logomarca da nova convenção. Fora o anúncio de diversos eventos góspi com “o intuito de salvar almas” (claro!), com cartazes coloridos, bem trabalhados (haja tempo disponível pra trabalhar tanto no Corel).

Pai eterno e eventual leitor: É essa a mudança? Cartazinhos coloridos e festinhas? É isso que tem que acontecer? Luauzinho, festinha de época, festivalzinho? Zero de discipulado, zero de ordem e decência, zero de Espírito de Deus. Jesus Cristo sendo só da boca pra fora e pra bem longe! Meu Deus, eu estou gritando pro mundo, é essa a mudança? (Senhor, eu não quero atacar pessoas, todos nós somos muito defeituosos, eu sei disso. Sou muito sujo e de dura cerviz, mas, por favor, mude os pensamentos (o meu, primeiramente) pra estarem de acordo com os Seus.) Isso é o que não estava acontecendo no meio dos jovens?

Eu digo o que não acontece na vida dos jovens: arrependimento, aprendizado, quebrantamento, boa vontade de obedecer a Deus, alegria de salvação, redenção, paraíso de Deus, graça, frutos do Espírito. E nisso TODOS NÓS temos responsabilidade! Inclusive cada indivíduo, por não querer nada com o reino de Deus; eu, por ser um líder negligente que poderia estar lutando de forma bem mais efetiva e buscando maneiras de trazer um pouco mais de Deus pra os meus liderados; o meu líder, por não orientar da maneira devida (isso mesmo, só meter o pau não resolve, apresente soluções! Poxa eu me encaixo nessa também...). E uma festinha aqui e outra ali vai angariar almas pra Jesus? Será que ninguém aprendeu? Isso nunca deu certo! Não é uma boa promotoria de eventos (kkkkk) que vai fazer acontecer alguma coisa com alguém. Será que não aprendemos que devemos pregar o Evangelho simples e puro, sem invenção de moda, sem distorções pra encher ego ou distrair ninguém? Ainda vamos na pilha desse monte de estrume desgraçado dos infernos que tem sido vomitado nos púlpitos, continuando a degustar dessas alfarrobas nojentas a nós oferecidas, cheias de idolatria e materialismo, auto-ajuda (?) e prolixidade?

Não estamos aprendendo a amar a Deus sobre todas as coisas, nem ao próximo como a nós mesmos. Não somos gentis, altruístas. Queremos aparecer, ser vistos e reconhecidos. Dizemos que a glória é a Deus, mas queremos essa glória pra nós e, assim, enganamos até a nós mesmos. Mas o que vai “acontecer”? Festinhas. Eventinhos. Tudo para o “reino” (bah, patético!).

Somos um bando de covardes! Não aproveitamos nossa liberdade e inventamos um monte de palhaçadas e deixamos o Evangelho de Cristo de lado. Queremos ir com Deus, mas até onde achamos legal, não aonde Ele quer que cheguemos. Queremos acontecer pra sermos destaque, mas não deixamos Jesus acontecer nas nossas vidas. Pois quando Jesus acontece na vida de um ser humano, é uma loucura total, uma mudança bruta e drástica de paradigmas, começa um desprezo pelo mundo e pelas coisas, um desprezo pela própria vida, pelas próprias realizações para viver a vontade de Deus. E é justamente isso o que NÃO acontece nas igrejas, com ou sem festinhas e eventinhos legais pra galera.

Jesus acontece na vida do homem e esse homem perde o medo de falar, o medo de ser julgado, o medo de se ferir, o medo de sofrer, o medo de morrer. Vê os impropérios e dissabores da vida por causa do Evangelho como honra. Enxerga privilégio ao ser martirizado por causa do nome de Jesus. E eu estou muitíssimo, extremamente distante disso. E é isso que eu preciso aprender. É isso que tem acontecer comigo e com os jovens e com quem quer que seja!

Precisamos viver a alegria da salvação, mas angustiados pelos que ainda estão perdidos. E, cá pra nós, fazer festa e encontros e blá-blá-blás do gênero não reflete nada disso.

A igreja está na contramão da Igreja. Continua flutuante, sonhadora (porque dorme), carnal e imprudente. É preciso acontecer uma conversão generalizada, para que possamos começar, de fato, a cristianizar o mundo como manda a Palavra, e não viver um mundanismo maquiado de igrejinha.

Perdoe-nos, ó Deus, por nossa incompetência. Tenha misericórdia e nos converta.

Amém.

Hudson Chaves

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Grito no Deserto

Um grito no deserto
é um grito forte,
um grito alto,
um grito de desabafo;

Um grito no deserto
é um grito de dor,
de furor, de amor;
é um grito de ousadia,
de apatia, de melancolia;

Um grito no deserto
é um grito sincero,
um grito desesperado,
um grito angustiado;

Um grito no deserto
é um grito de fragilidade,
de saudade, de vontade;
é um grito de tristeza,
de frieza, de fraqueza;

Um grito no deserto
é um grito de compaixão,
um grito de amigo,
um grito aflito;

Um grito no deserto
é um grito não ouvido,
não respondido, nem entendido;
é um grito de emoção,
de solidão, de transformação;

Um grito no deserto
é um grito de confiança,
um grito de esperança,
um grito de mudança.

Fernanda Abdallah 
Mendonça Moreschi

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Deficiências

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser "Miserável", pois:
"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.

Mário Quintana

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Transparência

"As vezes, fico me perguntando porque é tão difícil ser transparente. Costumamos acreditar que ser transparente é simplesmente ser sincero, não enganar os outros. Mas ser transparente é muito mais do que isso. É ter coragem de se expor, de ser frágil, de chorar, de falar do que a gente sente. Ser transparente é desnudar a alma, é deixar cair as máscaras, baixar as armas, destruir os imensos e grossos muros que insistimos tanto em nos empenhar para levantar. Ser transparente é permitir que toda a nossa doçura aflore, desabroche, transborde. Mas infelizmente, quase sempre, a maioria de nós decide não correr esse risco. Preferimos a dureza da razão à leveza que exporia toda a fragilidade humana. Preferimos o nó na garganta às lágrimas que brotam do mais profundo de nosso ser. Preferimos nos perder numa busca insana por respostas imediatas à simplesmente nos entregar e admitir que não sabemos, que temos medo! Por mais doloroso que seja ter de construir uma máscara que nos distancia cada vez mais de quem realmente somos, preferimos assim: manter uma imagem que nos dê a sensação de proteção. E assim, vamos nos afogando mais e mais em falsas palavras, em falsas atitudes, em falsos sentimentos. Não porque sejamos pessoas mentirosas, mas apenas porque nos perdemos de nós mesmos e já não sabemos onde está nossa brandura, nosso amor mais intenso e não-contaminado. Com o passar dos anos, um vazio frio e escuro nos faz perceber que já não sabemos dar e nem pedir o que de mais precioso temos a compartilhar, doçura, compaixão, a compreensão de que todos nós sofremos, nos sentimos sós, imensamente tristes e choramos baixinho antes de dormir, num silêncio que nos remete a uma saudade desesperada de nós mesmos, daquilo que pulsa e grita dentro de nós, mas que não temos coragem de mostrar àqueles que mais amamos. Porque, infelizmente, aprendemos que é melhor revidar, descontar, agredir, acusar, criticar, julgar e até mesmo calar, do que simplesmente dizer: “você está me machucando, pode parar, por favor!”. Porque aprendemos que dizer isso é ser fraco, é ser bobo, é ser menos do que o outro. Quando, na verdade, se agíssemos com o coração, poderíamos evitar tanta dor, tanta dor! Sugiro que deixemos explodir toda a nossa doçura. Que consigamos não prender o choro, não conter a gargalhada, não esconder tanto o nosso medo, não desejar parecer tão invencíveis. Que consigamos não tentar controlar tanto, responder tanto, competir tanto. Que consigamos docemente viver, sentir, amar. Buscar na simplicidade, no equilíbrio, na paz e no amor o nosso verdadeiro e transparente papel nesse mundo." Que o Senhor abra os nossos olhos, para enxergarmos a nós mesmos!

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